sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Casados

Amor e paixão são sentimentos contrários, mas recíprocos e necessários em um relacionamento. Amar é uma questão de tempo. O primeiro passo é apaixonar-se. As pessoas não entendem e se apaixonam achando que estão amando e amam sem reconhecer que antes estiveram apaixonados. E toda essa confusão porque entende-se que paixão é algo ruín, pelo contrário, é bom e muito saudável para qualquer relação. Amor e paixão apesar de independentes, não se separam porque se completam.
Paixão é atração. Entrega. É fogo, exagero, paradoxo. Um sentimento explícito, tórrido, puro, avassalador, doce, insano e infantil. A paixão não enxerga defeitos alheios. É tudo o que sentimos e descrevemos. São todas as loucuras que manifestamos. É efêmera por ser exigente. Imprevisível. Instável.
Uma flor que precisa estar sendo sempre regada de mimos e cuidados. Surpresa! Um telefonema inesperado durante o dia. Uma rosa e um bilhete dizendo “eu te adoro” assim no meio da correria do trabalho. Um jantarzinho a luz de velas em casa mesmo. Um abraço inesperado no corredor da casa acompanhado de beijos e carinhos. Imprevistos. Nada de rotina.
Namoros e casamentos que tem somente a paixão como alicerce precisam tomar cuidado, pois por ser um sentimento instável, você é obrigado a estar praticando e se desdobrando para fazer algo diferente. Rotina é inevitável, mas se for constante a paixão acaba e o relacionamento desmorona.
Contrário a paixão, o amor é são, benigno, paciente, implícito, humilde, não arde em ciúmes, “não se ressente do mal, não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade, tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”. O amor jamais acaba.
O amor está nas entrelinhas do nosso dia-dia, amamos sem perceber. Amor está em você se arrumar sem fazer barulho para que o parceiro não acorde e descanse um pouco mais. É cuidá-lo com zelo na hora de uma necessidade. Ajuda-lo nas despesas. Acordar de madrugada e perceber que o companheiro precisa ser embrulhado com lençol. É ajudar um ao outro nos afazeres domésticos. Cozinhar juntos nos finais de semana... É rotina.
Um sentimento puro, maduro, nada ingênuo. Quem ama sabe a quem se está amando e mesmo assim não se importa, seja a pessoa amada um mau caráter, hostil ou insensível. Quem ama conhece e aceita os defeitos do amado e se compadece em ajudá-lo a melhorar, a torná-lo diferente.
Paixão e amor são semelhantes na pureza e na beleza, mas opostos em suas respectivas definições. Acrescentam-se e completam-se num casamento onde a paixão é o fogo que aquece o amor e o amor é o que estabiliza a paixão. Dessa forma o relacionamento se torna muito mais seguro, bonito, saudável. E não há nada melhor do que ser apaixonado pela pessoa que ama e amar a pessoa por quem é apaixonado. Essência de um romance perfeito! .

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Grátis!

Uma vez, na fase de adolescência, pensava que se conselho fosse bom, não se dava, se vendia. Ignorância. Um dia dando conselhos a minha irmã adolescente, ela encheu a boca pra me dizer esse ditado. Senti uma aflição enorme e me dei conta de que devia ser esse também o sentimento das pessoas a quem o proferi.
A falta de maturidade e a própria ingenuidade dessa fase afligem os mais velhos que procuram orientá-los a não cometerem os seus mesmos erros, para que não sofram e tenham que enfrentar todas as tribulações pelo qual passaram. Resultado: sermão longo, chato e dependendo do caso, repetitivo.
Só que conselho é o tipo de orientação que devemos dar apenas uma vez, se ouviu, ouviu se não, não ouve mais. Devemos aconselhar sem interferir, acompanhar a situação sempre do lado de fora, porém a uma distância suficiente para que a pessoa possa ter em quem se apoiar.
Por que é bom ouvirmos e executarmos em nossas vidas os conselhos absorvidos, mas dessa forma perdemos a chance de tentar, de dar a cara pra ver o que acontece, de errar, de aprender, de consertar. Quando fazemos tudo certinho do jeito que nos orientam sempre, não colecionamos histórias, não temos figurinhas pra trocar, não temos noção de um erro e não temos a idéia da emoção do acertar.
Cada erro que praticamos é um registro de que passamos por este mundo, é a nossa identidade e nela está todo o nosso conhecimento, nossa sabedoria e maturidade. Também é só quando erramos que reconhecemos e valorizamos os conselhos que nos dão.
Por isso, a minha experiência de vida eu repassei a minha irmã, se ela ouviu bem, se não tudo bem também. Quebre ela a sua carinha, aprenda, amadureça, cresça. Talvez assim ela tome consciência de que conselho é ouro distribuído de graça e meu amor tão grande capaz de lhe estender a mão quando precisar.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Sininho

Não éramos amigas de infância, a conhecia de nome, ou melhor, de apelido. Na época do colégio todos a conheciam como Sininho, depois que ela terminou o ensino médio não a vi mais. Recentemente deu nos noticiários o assassinato de Lílian Obalski, estudante de 23 anos, que foi esfaqueada no pescoço no dia 9 de janeiro, pelo ex-namorado Fábio Silva da Silva. A notícia por mim passou despercebida até minha amiga me contar por telefone que Lílian Obaski é a nossa conhecida Sininho.

Inconformada, procurei mais informações sobre o caso. Parece que ele a matou porque não se conformou com o fim do namoro. Ela era tão jovem, tão bonita e já mãe de duas meninas pequenas. No momento da fúria tenho certeza que nem passou pela cabeça dele o tamanho da sua crueldade, tomara que algum dia ele tome essa consciência. Infelizmente não há nada que possamos fazer a não ser exigir justiça daquele que irá julgá-lo.

Para quem não conheceu a Lílian, ela é a moça da foto acima que está no meio dessas duas meninas encantadoras, aliás, suas filhas. Daqui eu torço para que essas crianças tenham um futuro lindo e que algum dia possam encontrar alguém que realmente as ame, ou que pelo menos as deixem ser felizes.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Sinta.

Hora do almoço. Estacionamos o carro frente a um restaurante beira de estrada, simplesinho, as mesas vestidas com toalhas quadriculadas, cadeiras de madeira, uma atendente ranzinza e um cardápio farto de comidas que não tinha. Decidimos pedir um prato feito, porção para quatro famintos. Enquanto esperávamos a refeição ficar pronta eu observava melhor o ambiente, faltava ali algo característico de todos os restaurantes.

Tentei lembrar de todos que já tinha ido e de tudo o que eles proporcionavam de melhor: atendimento, cardápio, comida deliciosa, sobremesa... Mas antes do atendimento, logo quando entramos no restaurante, o que seria? . Não estava longe a resposta que eu precisava, mas a fome já não deixava raciocinar muito.

Cansada de pensar e de aguardar a comida chegar, o jeito foi compartilhar com minha mãe a minha observação. Ela como se também estivesse pensando o mesmo que eu, logo disparou: “O cheiro, eu estava reparando exatamente nisso, falta aquele cheirinho de comida boa que a gente tenta fazer em casa, mas não consegue”. Como eu não pude pensar nisso antes.

A comida chegou. Comemos e não ficamos nada satisfeitos. A comida parecia que tinha sido requentada, nem cheirava mais, no entanto a fome deu um jeitinho pra que nós pelo menos conseguíssemos engoli-la. De volta a estrada, senti um cheiro maravilhoso de milho cozido.Tínhamos acabado de almoçar, mas não dava para resistir, era tentador o aroma daquele milharal, meu pai então parou o carro, perguntou o preço e comprou logo um para cada.

A minha espiga estava deliciosa, tão deliciosa que enquanto a devorava refletia no que tinha feito a gente comer quase nada no restaurante e o que nos fez, por impulso das narinas, comprarmos aquele milho tentador, o que me levou de volta a questão do cheiro, cheiro que aguça, provoca, irrita, atiça, que dá vontade, que transforma em desejo. Cheiro.

Cheiro então de todas as coisas que eu gosto: de roupa nova, de gasolina, de padaria, de mercearia, de laboratório de informática. Cheiro de geléia de morango, de terra molhada, ou mesmo de mangal. Camarão salgado, comida na chapa, Shopping Center. Acredito que tenha cheiro até de dia feliz. Nossas narinas sentem e nos atentam para algo bom ou ruin talvez até antes mesmo dos olhos virem.

O cheiro do milho eu senti a um quilometro de distância, meus olhos nem sonhavam com isso até minhas narinas captarem que se tratava de milho cozido. Parada obrigatória. Claro que quando meus olhos viram aquela senhora espiga dilatou-se, por um instante achei que fosse ficar cega. Exageros a parte, é tão bom cheirar, fungar, respirar. Sentir o perfume de um cabelo cheiroso dá impressão de que está limpo e um homem perfumado nos leva a crer que ele está bem disposto, que se cuida, que ama a si.

À uma hora dessas já tinha acabado de comer toda a espiga, não deixei um milhinho sequer sobrando, lambi os beiços. Chegando em casa, depois de uma longa viagem de férias, senti o cheirinho do meu lar, cada casa tem seu cheiro característico, a minha tem cheiro de felicidade. E desse cheiro eu procuro me perfumar todos os dias.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Vendedora por três meses.

Um belo dia acordei com uma vontade louca de fazer algo diferente, de férias, normalmente era acordar, comer e dormir, então me olhei no espelho e resolvi: “Vou trabalhar”. Como não sei fazer muita coisa, preparei um currículo e deixei em todas as lojas interessantes do shopping.

Passaram-se três dias e uma delas me chamou quase que com urgência, não medi esforços e na hora marcada estava eu lá com mais 25 candidatos a vaga. Eram vários testes de raciocínio lógico, psicológico e cálculos, fora a entrevista. No final de tudo passaram 2 garotos e eu.

Meu primeiro dia foi horrível, a loja era imensa, tinha que descer e subir a escadinha do estoque repondo mercadoria, aprender como tudo funciona a tempo antes do natal quando ninguém teria paciência de estar ensinando. Meu horário naquele dia era um pouquinho menor que os outros, mas estava durando uma eternidade, e ás seis da noite resolvi que não voltaria mais.

Voltei. O segundo dia foi pior que o primeiro, tinha que fazer todas as minhas obrigações com o corpo dolorido dos afazeres do dia anterior, eu não estava acostumada, mas agüentei as três semanas de experiência. Essas semanas foram cansativas, mas também produtivas, fazíamos atendimentos supervisionados, aprendíamos a usar o sistema de compra e a organizar o estoque.

Passaram-se as três semanas e lá estava eu vendendo e passando as mercadorias no meu nome e acumulando minha comissão, levava o cliente até a porta e ele saía muito satisfeito. Mas o que importava mesmo ali, além da satisfação do cliente era o número de peças que eu tinha conseguido vender naquele atendimento, o chamado “P.A” (peças por atendimento).

Nesse momento comecei a entender a vida de um vendedor e sua função: empurrar mercadoria ao cliente e usar de todo o seu poder de persuasão para convencê-lo a comprar aquele produto. Também era necessário ser esperto e ágil, atender 5 ou 10 clientes ao mesmo tempo e fazê-los levar bastante coisa e deixá-los satisfeitos. Pensei: “isso não é pra mim”.

A véspera do natal foi uma loucura, o shopping e principalmente a loja estavam lotados, tinha vendedor que conseguia “miar”, “2miar” e até “5miar”, eu não passava dos mil e quinhentos. “Miar” era uma expressão que a gente utilizava quando se referia a conseguir mil reais no dia. No natal foi possível fazer seis mil reais. Não foi o meu caso.

“Miar” era importante para nós que tínhamos que alcançar uma cota, dessa cota dependia nossa comissão. Se não conseguíssemos alcançá-la receberíamos um salário mínimo todo descontado e ainda um por cento do que tínhamos conseguido vender. Era uma guerra, quem estava na vez de atender era passado para trás por um vendedor espertinho que colocava seu nome da tabelinha na frente. Desentendimentos constantes.

E os clientes ficavam sem entender nada daquela confusão que se formava de quem ia atender quem. Pra piorar tinham clientes que entravam, vistoriavam a loja e iam embora, alguns diziam obrigado, outros davam o que a gente chamava de ‘soco’, nem olhavam na nossa cara. Quando não, triscavam na roupa, achavam bonitinha e saiam de fininho, os famosos “caroços”. Esses benditos faziam com que a gente voltasse pro final da fila do atendimento, o que resultava em perda de tempo e dinheiro.

O natal mesmo foi “sufúria”, ou seja, sufoco. Para o comércio é considerado natal dois dias antes do dia 25. Eu fui escalada para trabalhar na madrugada do dia 23 para o dia 24, o shopping ficou pequeno e a loja no chão, não tinha nem como vender, achar uma blusa “P” era um sonho e calça tamanho “42” surreal. E nos últimos minutos do segundo tempo a loja também tinha que bater sua cota e foram pro meio do salão vender: gerente, vendedor responsável ou “V.R” e até os donos da franquia. Conseguimos. Festa no final do expediente.

Depois do natal só troca, gente que não tinha gostado do presente, do tamanho, da cor, enfim, queriam trocar. Como se não fosse pouco estava no ar um cheiro de “paredão”, quem sai e quem fica na loja conforme o contrato fosse chegando ao fim. O segundo ‘paredão’ foi o meu e de mais cinco, éramos no total quatro meninas e dois meninos. Eles ficaram.

Foi um choro, despedidas sempre são emocionantes, éramos bem ou mal uma família, a gente se entendia, se gostava e se ajudava, fiz amigos que vou levar comigo para sempre, no natal não dava tempo sequer de bater um papo, mas a gente conseguia se comunicar só com um olhar, um sorriso e estava tudo bem.

Eu não consegui bater minha cota, cheguei perto, por isso recebi a mais do que assinaram na minha carteira de trabalho. Foi bom, cansativo, doído, exaustivo, mas divertido. Deu pra conhecer melhor e de pertinho a vida de um vendedor, não é fácil, hoje eu entro numa loja dessas com outros olhos e passo a tratar melhor aquele que vem me atender, nem sabe quem eu sou, mas faz de tudo pra que eu me sinta a vontade e saia dalí alegre e satisfeita e claro, com muitas sacolas na mão.